Apesar de enfrentar obstáculos como mudanças regulatórias e limitações técnicas impostas pelas concessionárias — como a inversão de fluxo de energia na rede —, a geração distribuída (GD) no Brasil vive um momento de franca expansão. É o que mostra Sydney Ipiranga, engenheiro eletricista e diretor técnico da ABGD, em palestra publicada durante o Fórum Regional de Geração Distribuída da região Sul (Fórum GD Sul).Segundo os dados mais recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), apresentados por Ipiranga, o país ultrapassou a marca de 38 gigawatts (GW) em potência instalada de GD, o que representa 22% de toda a capacidade instalada de geração de energia elétrica no Brasil. Somando-se os 17 GW de usinas solares centralizadas, a energia solar já totaliza 55 GW de potência no território nacional.“A geração distribuída já é a segunda maior fonte de energia no Brasil”, destaca Ipiranga, ressaltando a força da modalidade mesmo fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), onde se concentram as grandes usinas.Expansão regional e perfil do consumidorNo recorte por regiões, o Sul do país tem papel de destaque. O Paraná lidera em potência instalada, enquanto o Rio Grande do Sul possui o maior número de unidades de GD, com mais de 350 mil usinas. Cidades como Foz do Iguaçu, Curitiba e Londrina figuram entre os principais polos de instalação.Outro dado relevante é o perfil das unidades geradoras: 70% delas pertencem ao segmento residencial, seguidas pelos setores comercial, rural, industrial, poder público e serviços públicos. A modalidade predominante continua sendo a geração na própria unidade consumidora, representando cerca de 90% das instalações.Retorno do investimento atrai consumidoresDo ponto de vista econômico, os indicadores são animadores para investidores e consumidores. O chamado payback — tempo necessário para retorno do investimento — gira em torno de 3,5 anos nas regiões com maior tarifa de energia. Já a taxa interna de retorno (TIR) chega a ultrapassar 40% em alguns casos, mais que o dobro da taxa Selic, atualmente em 13,75%.“Se o cliente tem dinheiro aplicado em fundos que rendem Selic mais 3%, por que não investir em algo que rende 35%? Muitas vezes é uma decisão de falta de informação”, argumenta o diretor.Isto demonstra que, além dos benefícios ambientais e de autonomia energética, a GD oferece alta rentabilidade financeira, sendo uma alternativa mais vantajosa que diversos investimentos tradicionais.Projeções e realidade: GD desafia previsões oficiaisAs projeções do setor oficial, como as da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), têm sido sistematicamente superadas pela realidade. A EPE estimava que o país chegaria a 38 GW de GD apenas em 2025 — número já alcançado em março de 2024.“A EPE tem feito previsões conservadoras. Para 2024, previam 28 GW, mas fechamos com 32 GW. Precisamos olhar essas projeções com um certo cuidado”, ressalta Ipiranga.Segundo ele, os relatórios técnicos da EPE são importantes, mas não devem ser tomados como limite. A força da geração distribuída vem da capilaridade e da adesão massiva da população, que encontrou na GD uma forma de economizar, investir e contribuir para a sustentabilidade energética.Desafios seguem no horizonteApesar do crescimento consistente, o setor ainda enfrenta desafios. Entre eles, a constante instabilidade regulatória, os entraves burocráticos para conexão à rede, e as limitações estruturais das concessionárias, que ainda se adaptam à lógica da geração descentralizada.A ABGD, que representa mais de mil empresas do setor — incluindo integradores, distribuidores e prestadores de serviços —, atua ativamente junto à ANEEL e aos órgãos competentes para defender os interesses do setor e contribuir com um marco regulatório mais estável.A palestra pode ser assistida pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=k3K3wFVAssk.